segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Christian Mørk - Darling Jim: O Lado Negro da Sedução [Opinião]


Rodeado por um mediatismo fora do comum via rede social Facebook, o livro Darling Jim - O Lado Negro da Sedução foi lido e apreciado antes da sua saída em mercado, e comentado à medida que os leitores desfolhavam as trezentas e poucas páginas. E eu tive o privilégio de ler este excelente livro!

De facto um lançamento tão peculiar como este esteve à altura deste livro que alia os mais diferentes géneros, de uma forma muitíssimo bem conseguida. Desde o policial convencional, um toque de dramatismo e emoções fortes subjacentes em toda a história até à menção de lendas tradicionais da Irlanda num ambiente gótico, quase como retirado da mente do afamado realizador Tim Burton. É um livro diferente, mas que prende o leitor desde a primeira página.

O enredo começa quando um carteiro idoso de Malahide espreita através da ranhura de uma porta e vê o corpo morto de uma mulher com quem ele ocasionalmente tomava uma chávena de café. Moira Hegarty. A polícia descobre mais dois corpos no andar de cima - mulheres jovens que aparentam ter morrido de fome dentro de uma sala trancada. Tratam-se das jovens sobrinhas da também falecida Moira. O jovem Niall Cleary, substituto do carteiro Desmond, encontra um diário que outrora pertenceu a uma das jovens mortas, Fiona Walsh em que detalha a sua vida, enaltecendo a frase: "Nós amamos um homem chamado Jim sem conhecer sua verdadeira natureza. " Fiona e Roísin têm uma terceira irmã, Aoife, cujo paradeiro desconhece-se...

O primeiro pormenor que salta à vista é o seguinte: Christian Mørk é dinamarquês, mas escreve uma história passada na Irlanda. A capacidade do autor na descrição dos vários cenários irlandeses bem como a narrativa de certas lendas populares é ilimitada. O enredo é riquíssimo e Mørk intercala-o com histórias do folclore irlandês, quebrando a monotonia do texto (se é que há realmente monotonia numa história tão bem conseguida!)
Daí que tenha sido importante que o autor tenha intervalado dois diários das irmãs Fiona e posteriormente o de Roísin, com estes episódios lendários e a própria da narrativa actual em que o carteiro Niall decide investigar o que terá acontecido.

O tom do gótico é conseguido graças às várias descrições de violência psicológica causadas por um amor doente e obsessivo, bem como os planos de infligir dor física dados adquiridos através da leitura de ambos os diários. Estes são arrepiantes (embora denote uma lucidez bastante avançada para quem está sujeita a maus tratos e a fome) e vão continuamente desenterrando segredos obscuros do passado das três irmãs, Jim e da tia Moira. O diário de Fiona corrobora o de Roisín e ambos complementam-se e ajudam a perceber o que realmente desencadeou a morte das mesmas. Apenas tive pena de não estarem mencionados os registos da terceira irmã Aoife, pois fiquei com uma enorme vontade em ler o seu ponto de vista em relação a Jim.

Exceptuando talvez as narrativas das lendas, todo o enredo é bastante plausível e perfeitamente natural. Afinal quantos de nós é que não se apaixonaram já pela pessoa errada? E quantos de nós não faria de tudo para tê-la nos seus braços? E conhecermos tão bem essa pessoa a ponto de garantir que é um ser humano sem maldade? Por isso, na minha opinião, o autor apenas fez uma extensão de algo tão natural aos seus limites mais mórbidos e obsessivos.

Achei as personagens extremamente complexas mas não deixando de ser reais. Desde Jim, dotado de uma estranha mas aparentemente natural conotação sexual, exercendo uma atracção inexplicável sobre as várias personagens femininas do livro; Fiona, a professora entendida na temática do Egipto e que tenta a todo custo lutar contra a atracção que sente por Jim, as irmãs gémeas, que partilham desde mesmo sentimento; a tia Moira que vendo escapar por entre os dedos o seu sonho, mostra um espírito vingativo tão acentuado quanto o poder atractivo da personagem masculina.

A parte do folclore irlandês incide fundamentalmente sobre dois irmãos gémeos Ned e Euan, com uma forte posição no país no ano de 1177. Com uma importância carismática, o lobo é o animal que se destaca nesta fase da história.
Não sendo eu apreciadora de narrativas de cariz histórico, li com alguma ansiedade as cenas de batalhas (e quem leu os autores Stephen Lawhead e Bernard Cornwell consegue garantir, mais do que eu, a veracidade e autenticidade destas descrições)
. No meu íntimo algo me garantia uma relação entre esta narrativa e a do diário das irmãs. Comecei a tecer inúmeras teorias que permitissem ligar estas acontecimentos de forma lógica. Felizmente, nenhuma destas especulações se verificaram e o desfecho acabou por ser surpreendente!

Um enredo intrincado que explora os limites obscuros da mente humana! Um livro que dada a sua riqueza satisfaz os leitores apreciadores de fantasia, de policial ou apenas fãs do dramático. Recomendo vivamente!


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