quinta-feira, 6 de outubro de 2011

John Darnton - A Profecia de Neandertal [Opinião]

Opinião de Ricardo Grosso:

É sempre ingrato um historiador fazer a crítica de um livro cuja narrativa gira em torno de questões que têm sido alvo de aceso debate entre historiadores, arqueólogos e antropólogos desde há décadas. Terão os Neandertais coexistido com a espécie Homo Sapiens Sapiens (vulgo Homem Moderno)? E desse modo, como e porque se terão extinto os primeiros e como se tornaram, os segundos, a espécie dominante em todo o planeta?

São estas as principais questões que nos acompanharão ao longo de todo o livro. Uma obra do jornalista e escritor norte-americano John Darnton, um autor galardoado já com o prémio Pulitzer, mas, aparentemente, pouco conhecido no nosso país.

No início da narrativa começamos por ser introduzidos a um enigma (fictício), denominado enigma de Khodzant, que tem intrigado investigadores e académicos desde os finais do séc. XIX e cuja referência é uma constante ao longo de toda a história, sendo esclarecido apenas no final. O que, a meu ver, acaba por ser o aspecto mais interessante da narrativa, uma vez que a meio do livro temos a sensação de ter desvendado já todos os mistérios do enredo, à excepção do referido enigma.

Efectivamente, a trama deste livro atalha por questões que não são necessariamente novas. Desde logo, o avistamento de figuras humanas, mas de aspecto grotesco e símio, nas montanhas Pamir (uma cordilheira que abarca território do Paquistão, Afeganistão, Tajiquistão e China) remete-nos quase imediatamente para os sobejamente conhecidos relatos de avistamentos de yetis nos Himalaias ou de bigfoots na região fronteiriça entre os Estados Unidos e o Canadá. O desaparecimento de um eminente investigador que procurava vestígios de Neandertais nessa zona montanhosa e o recrutamento de dois investigadores rivais no campo académico, mas com um passado em comum, também não traz grande novidade à narrativa, tanto mais que os investigadores recrutados, Matt Mattison e Susan Arnot, rapidamente se tornam os protagonistas da obra.

A subida às montanhas e o encontro com o investigador desaparecido parecem ser narrados a uma velocidade alucinante, em vez de uma narrativa mais fluída e demorada que certamente acrescentaria uma maior dose de realismo à mesma, sem que tal se traduzisse, necessariamente, num grande acréscimo de páginas. Bastará, para tal, ler O Codex Maia, da autoria de Douglas Preston, para se perceber que, embora perante a narrativa de algo fictício, importa dar algum realismo às descrições e que a subida a uma das montanhas mais altas do mundo não se deverá fazer em 20 ou 30 págs.

Porém, após este aspecto, do meu ponto de vista, menos positivo, percebemos porque é que o autor quis que os seus protagonistas chegassem tão depressa ao cume da montanha, uma vez que será aí que verdadeiramente começa a trama e onde ocorrerão os eventos determinantes para o desfecho do enredo. Desse modo, quase que damos por nós a desculpar John Darnton por ter posto os protagonistas a subir cerca de 7000 metros à velocidade de um foguete.

Se gostam de narrativas sobre enigmas históricos, com uma dose de romance e um leve cheirinho a thriller e estão-se nas tintas para a originalidade da narrativa, então poderão achar este livro interessante. Se, pelo contrário, procuram narrativas inovadoras ou emoções muito fortes, então desaconselho fortemente esta obra.

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