terça-feira, 6 de novembro de 2012

John Verdon - Não Abras os Olhos [Opinião]


Do estreante autor de Pensa Num Número, um dos grandes livros lidos em 2011, chega este Não Abras os Olhos. Desde já, felicito a Porto Editora pela brevidade da publicação deste tão aguardado livro. A capa, devo dizer, está simplesmente fantástica, extremamente apelativa.

O já conhecido detective Dave Gurney, protagonista de Pensa Num Número, depara-se com um estranho caso de um homicídio de uma noiva em plena festa de casamento. A jovem, Jillian Perry, provém de uma família endinheirada e está prestes a contrair matrimónio com um psicólogo bem sucedido, Scott Ashton.
As atenções voltam-se para o jardineiro Hector Flores, que subitamente desaparece e se torna o suspeito número 1 deste macabro homicídio. A mãe de Jillian, a jovem decapitada, pede a Gurney que traga mais respostas que a própria polícia.

Esta é uma sequela em tudo independente do livro de estreia, embora haja umas referências (mínimas) sobre o caso anterior. O denominador comum é apenas Dave Gurney e a sua esposa Madeleine. E Jack Hardwick, e a sua insistência no retorno à investigação por parte de Gurney.
Não é desta que este se afasta definitivamente das investigações policiais, para mal de Madeleine. Um dos aspectos que denotei melhor caracterizado é sem dúvida a relação do casal, embora ela tenha um papel menos activo, com umas agravantes do passado e a forma como este caso poderá denegrir mais ainda o casamento deles.

Em relação às restantes personagens, há uma inovação relativamente ao livro antecessor: o autor tece as personagens com problemáticas como a sociopatia ou o abuso sexual, conferindo-lhes uma personalidade por si só, muito complexa, que complementa o enigma que surge através da morte de Jillian.
Não são só os vilões que estão dotados de problemáticas oriundas de uma sexualidade mal vivida, esta está patente sobretudo nas vítimas.

Embora tenha que admitir que a sequela esteja ao mesmo nível de qualidade, devo confessar que, por razões pessoais que se prendem essencialmente com o meu gosto pelos números (afinal de contas, sou da área da matemática e se há coisa que me fascine são teorias numéricas, como as que o autor se baseou em Pensa num Número), o anterior foi o meu favorito. Tenho que reconhecer, no entanto, que os crimes praticados nesta trama foram mais desafiantes. O autor ousou pela metodologia de crime utilizada: as decapitações e a descrição envolvida, revelando algum grafismo contrariamente aos homicídios praticados na trama anterior.

No entanto, o autor investe sistematicamente na tipologia de história intrincada. Bem estruturado, este livro categoriza-se no tipo de tramas onde as pistas dão origem a outras pistas sem que o leitor desconfie de nada. E no fim, a resposta estava lá, aparentemente tão dissimulada que o leitor não reparou na mesma.
Às páginas tantas eu estava tão expectante que não conseguia tecer nenhuma teoria lógica, o que foi bastante satisfatório pois o desfecho surpreendeu-me genuinamente.
E mais do que a surpresa que caracteriza as reviravoltas da trama, esta tem um mote sobretudo invulgar. O homicídio inicial é simplesmente grotesco, afinal de contas, quem se lembraria de matar uma noiva em plena festa de casamento?

Por isso, Não Abras os Olhos foi para mim, um livro que alia o mistério de um assassinato macabro e um outro referente a mulheres desaparecidas num plano psicológico bastante intenso, simplesmente tão criativo quanto Pensa Num Número. Mais do que um livro que adorei, John Verdon torna-se assim um autor de referência que irei seguir sem qualquer dúvida. Fico ansiosa desde já, pela publicação do terceiro livro do autor, almejando que esta seja o mais breve possível.




 

4 comentários:

  1. Já li o primeiro dele "Pensa num número" e adorei.. estou ansiosa por ler este..

    Beijinhos*

    diariodachris2012.blogspot.com

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  2. Já li os 2 livros deles e acho que estão mais ao menos ao mesmo nível, se gostam do primeiro vão gostar do 2.

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  3. Olá Vera.
    Como habitualmente gostei bastante da tua opinião. Também como tu, embora por motivos diversos, gostei mais de Pensa num Número. Partilho contigo as convicções de estarmos perante dois livros muito bons e de que Verdon é um escritor a acompanhar avidamente.
    O motivo que me leva a preferir o primeiro livro prende-se com a expectativa de surpresa que sustentava e que não foi cumprida. Após um livro de estreia tão auspicioso ansiava por uma obra prima. O que recebi foi muito bom mas não é uma obra prima, embora, propositadamente repito-me, seja muito bom. (Atribuí aos dois 4* no Goodreads)
    Enquanto a caracterização de todos os personagens me agradou, nesta perspectiva mais profunda, algumas cenas pareceram-me ficar no limite do credível porquanto há coisas que encaixam demasiado bem umas nas outras. Isto trata-se apenas de uma sensação que me ficou, não sendo, todavia, determinante ou condicionador para a opinião.
    No caso do perpetrador do assassínio, a minha experiência nesta leitura, leva-me a divergir da tua perspectiva. Muito cedo alvitrei a possibilidade de Hector Flores "coiso" (tu sabes e eu não quero colocar spoilers) e ainda quem e como teria assassinado Jillian...
    Resumindo, um grande livro, de um grande escritor... que não me surpreendeu.
    Aguardo com bastante ansiedade que editem a sua terceira obra, que já existe noutras línguas.
    Boas leituras!
    Bjs

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    Respostas
    1. Olá André!
      Pois, eu achei o mesmo! Não é que não tenha gostado deste livro mas em comparação com o Pensa Num Número, ficou um pouco aquém. Aconteceu-me o mesmo com o Donato Carrisi. Acho que as expectativas com o segundo livro depois de um grande livro como o primeiro acabam por ser fulcrais.
      Ainda assim estou como tu, quero ler o terceiro ;)

      Bom domingo!
      Um grande beijinho e boas leituras!

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