terça-feira, 14 de maio de 2013

Antonio Hill - O Verão dos Brinquedos Mortos [Opinião]


Sinopse: O inspetor Héctor Salgado está afastado do serviço há semanas quando lhe atribuem, extra-oficialmente, um caso delicado - o aparente suicídio de um jovem de boas famílias. À medida que Salgado penetra num mundo de privilégios e de abusos de poder, o caso, aparentemente simples, complica-se de forma inesperada, e o inspetor terá de enfrentar não só esse mundo mas também o seu passado mais obscuro, que, no pior momento, volta para ajustar contas. Os sonhos, o trabalho, a família, a justiça e os ideais têm um preço muito alto, mas há sempre quem esteja disposto a pagá-lo.

Opinião: Não conheço muito sobre o que é escrito a nível de romances policiais no país vizinho mas a avaliar por O Verão dos Brinquedos Mortos, é uma grande falha da minha parte. Gostei imenso da estreia de Antonio Hill.

Dou os parabéns à Porto Editora pela capa, que na minha opinião está espectacular e bastante mais apelativa que a capa original. Quanto ao título, manteve-se o nome original, El Verano de Los Juguetes Muertos, título este que considero bastante sombrio, recorrendo a um adjectivo tão forte (e contraditório) para os brinquedos, objectos inanimados mas longe de estarem mortos tal é a alegria que dão às crianças.

A história tem lugar em Barcelona, num espaço de cinco dias. É este o período em que decorre a investigação. Num tão curto espaço temporal, é notória a profundidade que Hill confere à narrativa, quer pelo desenvolvimento da investigação que conduz a rumos surpreendentes, quer pela vida dos personagens. Mais uma vez, o protagonista segue o cliché de amargurado pelos contornos que assumem a sua vida pessoal, o que não influencia de todo, o seu envolvimento na investigação.

Inicialmente a trama peca pelo excesso de personagens. E Hill pretende estreitar a relação destas com o leitor, aprofundando-as. Por um lado, debruça-se sobre o inspector Hector Salgado, por outro também caracteriza em pleno a sua colega Leire, a braços com uma situação delicada. Fugazmente caracteriza o restante quadro da polícia bem como duas famílias em particular, fazendo quase que uma análise do estilo de vida de famílias endinheiradas, neste caso barceloneses, que vivem sobretudo de aparências. O segredo está no esconder os pormenores sórdidos no seio familiar, acentuando o efeito choque que persiste no leitor, a cada virar de página.

Não recomendado às pessoas mais susceptíveis pois aborda a temática de abusos infantis, por si só difícil de digerir, além do mais noto que é pouco tolerado especialmente por quem já tem filhos. A maternidade é até o assunto fulcral, explorada sobre os mais variados prismas, acentuando-se uma reflexão sobre o lado mais negro desta fase.
Por outro lado, há uma multiplicidade de temáticas que são abordadas no romance, mais do enfoque social, como o trato das relações familiares ou o retrato da juventude, que mal conduzida, pode prender-se aos vícios das mais variadas naturezas. E o mais aterrador é sem dúvida, esta adolescência que Hill retrata, não é tão díspar face à realidade. 
A complexidade psicológica das personagens assume proporções colossais, não fosse o próprio António Hill, psicólogo de profissão.

Um livro que finda a investigação policial, deixa entraves no que respeita à resolução do caso pessoal de Hector Salgado, o que deixa antever que O Verão dos Brinquedos Mortos marca o início de uma série, trazendo um desfecho agridoce. Se por um lado, fico satisfeita por Hill continuar a enveredar pela escrita, por outro, gostaria de ter já o segundo livro, pois teria lido imediatamente a seguir.
Uma estreia auspiciosa, Antonio Hill é definitivamente um autor a ter debaixo da mira!


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