sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Teri Terry - Slated [Opinião]


Sinopse: Kyla Davis está prestes a entrar numa nova vida. As suas memórias foram apagadas e, com elas, todo o conhecimento que tinha antes de ter sido Reiniciada. Como pena para um crime que, como tudo o resto, desconhece, tudo o que a identificava foi removido. Agora, Kyla tem à sua espera uma nova família e um novo início de vida, e a responsabilidade de cumprir tudo aquilo que esperam dela – caso contrário, as consequências poderão ser pouco agradáveis.Mas, mesmo enquanto se tenta adaptar à comunidade, Kyla começa a questionar. Há pessoas a desaparecer à sua volta e uma vigilância opressiva em que todos parecem estar apenas à espera que ela cometa o seu primeiro erro. E, algures por dentro, há memórias que lutam para surgir. Talvez ela não seja apenas a boa menina Reiniciada que todos lhe exigem que seja. Mas quem é, então?

Opinião do Ricardo: Slated é mais um romance dirigido a um público adolescente também denominado como young adult. 
Esta trama desenrola-se num ambiente futurista inserido numa narrativa de cariz distópico, embora não estejamos perante um cenário pós-apocalíptico, mas mais perante um ambiente futurista totalitário, podendo-se consubstanciar esta obra como uma realidade alternativa ao jeito da clássica tradição orwelliana. 

Neste mundo futurista as autoridades criaram um método de punição para quem seja considerado um criminoso, o Reinício. Este método consiste no internamento compulsivo do visado, sendo-lhe apagadas todas as memórias e dando-lhe uma segunda oportunidade a partir do zero, sendo-lhe incorporado um aparelho denominado Levo que vai medido os níveis de tensão e ansiedade de forma a controlar os ímpetos dos reiniciados, sendo dez o valor correspondente à felicidade suprema e um o valor mínimo correspondente a um estado de raiva e depressão, estado esse que supostamente desencadeia uma reacção por parte do próprio Levo capaz de deixar o seu utilizador inconsciente antes que o mesmo consiga partir para situações de agressão.

Travamos então conhecimento com Kyla, uma adolescente de dezasseis anos que foi reiniciada. Contudo, Kyla apercebe-se que os pesadelos não são apenas responsáveis pelos seus níveis de ansiedade que fazem disparar o seu Levo, mas são também reminiscências do seu passado do qual não era suposto ela lembrar-se. Kyla irá descobrir também que ela e o seu Levo têm uma estranha relação com situações de raiva e agressão.

Ao sair do hospital onde têm lugar os reinícios, Kyla é entregue a uma família de adopção, que anteriormente adoptara uma outra reiniciada, Amy, que será agora a irmã da protagonista. Ao entrar na sua nova família Kyla goza de alguma protecção do pai face à mãe que se apresenta como alguém bastante severo e distante. Contudo, à medida que a história se vai desenrolando e Kyla vai colocando as suas interrogações observamos uma mudança na atitude de alguns dos personagens.

Paralelamente Kyla vai travando amizade com alguns adolescentes, apercebendo-se de uma divisão profunda social entre reiniciados e não reiniciados, bem como na presença constante e incómoda dos “lordens” que lhe são apresentados como zeladores pela paz social.

Creio que, na presente crítica, será necessário destrinçar os elementos que constituem uma novidade dentro do género, como a temática em torno do reinício, bem como a ideia de controlo emocional através do dispositivo tecnológico Levo, o que se distancia um pouco das distopias mais clássicas que pretendem o mero controlo da informação dirigida às massas para, desse modo, formatar a opinião das mesmas.

Não obstante estes factores foram vários os momentos ao longo da leitura em que senti que estava a ler uma espécie de adaptação para adolescentes do célebre Mil Novecentos e Oitenta e Quatro de George Orwell, porque desde a entrada em cena dos “lordens” até ao controlo parental e social, tudo parece apontar descaradamente para reminiscências do Big Brother orwelliano. Porém, ao invés de um funcionário ministrial, temos como protagonista uma jovem com dotes de artista e com algumas capacidades atléticas acima da média para alguém da sua idade, o que sugere quase imediatamente que temos perante nós um elemento de predestinação intrinsecamente conectado à protagonista, facto que é repetidamente assinalado ao longo da obra através da frase “A Kyla é diferente”. De resto, este elemento de predestinação associado a uma protagonista do sexo feminino é algo que também já se começa a tornar habitual nas narrativas distópicas mais recentes dirigidas ao mesmo tipo de público adolescente ou young adult, recorde-se apenas os exemplos mais conhecidos como as sagas Jogos de Fome ou Divergente.

O final da obra deixa apenas em aberto duas questões (embora uma dessas questões se apresente como mais fulcral do que a outra) para os volumes seguintes da triologia, Fractured e Shattered, mas, o facto de findar sob a forma de anti-climax, fez com que sentisse curiosidade em ler os volumes seguintes.


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